terça-feira, 18 de março de 2008

Educar crianças para aprender o consumo consciente

Luciana Rebouças, de A Tarde

No último sábado, 15, o mundo comemorou o Dia do Consumidor. Mas cabe uma reflexão sobre a seguinte questão: como expor as crianças a este universo de consumo? Sem dúvida, as crianças já estão elevadas ao status de consumidoras. Elas sabem o que querem possuir e são bastante estimuladas pela publicidade.

Na tentativa de reverter este fenômeno, muitos pais e educadores têm aderido a idéia da Educação para o Consumo Consciente voltada para o público infantil. Estes ensinamentos trabalham a idéia do consumo com limites, da escolha saudável dos produtos comprados e do consumo de produtos que não prejudiquem o meio ambiente.

"O indicado é que os pais tenham sempre um diálogo com os pequenos. Eles têm que brincar. E estes universo consumista encurta a infância", explica Lais Pereira, psicóloga do Instituto Alana - Projeto Criança e Consumo. O Instituto luta pela publicidade endereçada apenas aos pais, para não tornar as crianças verdadeiras "promotoras de vendas".

Uma pesquisa da InterScience aponta que, entre as crianças de 6 a 13 anos, 80% influenciam nas compras de produtos familiares. "Nesta pesquisa, constataram que as crianças só não opinam na compra de seguros-saúde e material de limpeza", coloca a psicóloga.

Segundo Isabella Henriques, coordenadora geral e advogada do Instituto Alana, os pais devem observar o potencial nocivo destas propagandas que não focam produtos infantis, como celulares e carros, mas encontram nas crianças porta-vozes para influenciar na escolha dos pais.

Além disto, a publicidade de produtos infantis confundem as crianças quando utiliza os personagens do desenho que elas assistem, ou o apresentador que elas assistem, já associados à diversão. "A publicidade também se aproveita do gosto das crianças por colecionar. É quase uma falta de escrúpulos a associação de vários produtos a brindes", reitera a psicóloga.

Para Lais, a escola também tem um papel importante ao promover oficinas para trabalhar a questão da publicidade, não vender produtos alimentícios gordurosos e tentar diminuir o desejo de ter das crianças. "A educação para o consumo pode entrar como um vetor em várias disciplinas na escola. Também podem ter projetos para a utilização racional da água, por exemplo. É importante que a escola incorpore esta educação no dia a dia", ressalta.

Engano - Como as crianças passam um grande período em frente à televisão, e 1/3 desta programação é voltada para a publicidade, esta combinação fatal faz as crianças virarem armadilhas da sociedade fundamentalmente consumista. Segundo pesquisa da Kid Power 2007, mais de R$ 200 milhões foram gastos em publicidade dirigida ao público infantil no Brasil em 2006.

"A publicidade existe única e exclusivamente para vender. Ela não está interessada em explicar se o produto é bom, ou ruim, ou para quem serve o produto", explica Isabella. A advogada reitera a não-possibilidade de estas propagandas serem voltadas para quem não possui discernimento para entendê-las.

Isabella usa como exemplo a criança que joga no seu computador, passa por uma ilha, e dentro dela há uma fantástica lanchonete já conhecida pelo público infantil. "A criança não tem o discernimento para entender que aquela empresa pagou pelo anúncio no jogo. Esta propaganda não é inidentificável como tal para os pequenos", provoca.

Ela informa que o Código de Defesa do Consumidor condena, a prática no artigo 37: "É abusiva, dentre outras, a publicidade... que se aproveite da deficiência de julgamento e experiência da criança"; e no artigo 36, a publicidade que não é identificável como tal.

Segundo a advogada, cerca de um ano depois do lançamento do Projeto Criança e Consumo, as denúncias aumentaram consideravelmente contra as propagandas que focam as crianças. "Temos uma aceitação boa, tanto dos órgãos públicos como dos pais. Os pais comentam que não agüentam mais os constantes pedidos dos filhos, que um dia querem um carrinho, no outro um boneco, no outro um vídeo game...".

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